12.
Agora escrevo:
paro para desejar que a palavra muda
ganhe vida
e me interpele,
nas instâncias da noite,
como se uma conversa bastasse
para clarificar o mistério;
mas tudo é ausência neste espaço e neste lugar
aonde me encontro,
e a palavra é apenas uma centelha
silenciosa,
que reverbera num céu:
ela não pede assentimento para calar o que não pode
ser dito:
ela, antes vem, súbita
e inesperada,
num momento em que o desejo
se materializa numa forma,
orvalhar
o tanto de sequidão do meu ser,
enquanto promessa
de revelação:
anseio por um abraço
como um amante que errou e se perdeu
num desejo obscuro
de solidão
e que mais não tem
que o lustro
das horas
até à eternidade:
mas este cansaço é a voz do tempo
que por mim chama;
pilar
da vida –
vibrante e mudo –
que liberta da exaustão,
se, espontânea e imperfeitamente,
eu for capaz
de encontrar a verdade
que atravessa o quotidiano das coisas que são
autênticas:
e, então, o lugar onde torna-se absolutamente
indiferente:
pois, contemplar requer
uma certa atitude,
e não uma disposição particular do sítio,
que habitamos;
e a voz do tempo
só pode
ecoar em nós,
se for possível fazer uma pausa,
um intervalo,
na azáfama da labuta quotidiana:
é essa a barreira invisível
que procuro
derrubar:
talvez sonhando:
talvez acrescentando valor
ao pensamento,
que me escolhe em determinado momento,
e que eu acolho como nascendo de mim,
qual planta que floresce,
apenas
quando é o tempo
de florescer:
evadir-me da voz do tempo não é possível;
ela batalha
em segredo,
pronta a revelar
que o cansaço dos dias
é como um campo ou uma sala vazios,
sem o colorido da esperança:
mesmo quando parece
que não escuto
esta voz,
não me perco na voragem;
e perdoo-me,
como me posso perdoar,
seguindo em frente na aventura dos dias:
este é o meu tesouro:
podia desbaratá-lo, bem sei, se existisse em mim
a lágrima fácil,
para, depois, o chorar;
mas não é assim:
este tesouro
é a minha força sossegada,
que aquieta
quando tem de aquietar:
parar não significa desistir:
aquietar não significa lassidão:
e a palavra?, a palavra muda?,
que transforma em presença plena
o universo da noite
em algum lugar,
parece ter sido amplamente
pensada
e, no pensamento,
se firma,
qual muralha de pedra.