sábado, 8 de novembro de 2025

 12.

Agora escrevo:

 

paro para desejar que a palavra muda

ganhe vida

e me interpele,

nas instâncias da noite,

como se uma conversa bastasse

para clarificar o mistério;

mas tudo é ausência neste espaço e neste lugar

aonde me encontro,

e a palavra é apenas uma centelha

silenciosa,

que reverbera num céu:

 

ela não pede assentimento para calar o que não pode ser dito:

 

ela, antes vem, súbita

e inesperada,

num momento em que o desejo

se materializa numa forma,

orvalhar

o tanto de sequidão do meu ser,

enquanto promessa

de revelação:

 

anseio por um abraço

como um amante que errou e se perdeu

num desejo obscuro

de solidão

e que mais não tem

que o lustro

das horas

até à eternidade:

 

mas este cansaço é a voz do tempo

que por mim chama;

pilar

da vida –

vibrante e mudo –

que liberta da exaustão,

se, espontânea e imperfeitamente,

eu for capaz

de encontrar a verdade

que atravessa o quotidiano das coisas que são

autênticas:

 

e, então, o lugar onde torna-se absolutamente indiferente:

 

pois, contemplar requer

uma certa atitude,

e não uma disposição particular do sítio,

que habitamos;

e a voz do tempo

só pode

ecoar em nós,

se for possível fazer uma pausa,

um intervalo,

na azáfama da labuta quotidiana:

 

é essa a barreira invisível

que procuro

derrubar:

 

talvez sonhando:

 

talvez acrescentando valor

ao pensamento,

que me escolhe em determinado momento,

e que eu acolho como nascendo de mim,

qual planta que floresce,

apenas

quando é o tempo

de florescer:

 

evadir-me da voz do tempo não é possível;

ela batalha

em segredo,

pronta a revelar

que o cansaço dos dias

é como um campo ou uma sala vazios,

sem o colorido da esperança:

 

mesmo quando parece

que não escuto

esta voz,

não me perco na voragem;

e perdoo-me,

como me posso perdoar,

seguindo em frente na aventura dos dias:

 

este é o meu tesouro:

 

podia desbaratá-lo, bem sei, se existisse em mim

a lágrima fácil,

para, depois, o chorar;

mas não é assim:

 

este tesouro

é a minha força sossegada,

que aquieta

quando tem de aquietar:

 

parar não significa desistir:

 

aquietar não significa lassidão:

 

e a palavra?, a palavra muda?,

que transforma em presença plena

o universo da noite

em algum lugar,

parece ter sido amplamente

pensada

e, no pensamento,

se firma,

qual muralha de pedra.

 

 

 

 

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