13.
Agora escrevo:
e se tudo, afinal, não passasse de um equívoco?,
se tudo, afinal, fosse apenas
uma confusão,
ou um erro, de uma mente perturbada;
até à saciedade, procuro uma resposta, mas a noite,
na sua soturna escuridão universal,
apenas adensa
esta espécie de dilema,
que não permite que eu seja fiel
a um propósito de uma escolha existencial firme:
aonde está a coerência entre o meu pensamento e a
minha ação?:
em prol de uma dita liberdade,
desenhei um novo mapa dos céus e da terra
e, na minha mente, inteligi
um caminho
só meu,
apenas meu:
caminho este que com desassombro
me conduziria a uma mudança
como se, numa jarra,
as flores que murcham fossem por mãos delicadas
retiradas
para que o arranjo florido
mantivesse o seu viço e a sua beleza:
a harmonia:
como a água que escorre pelos dedos de uma mão,
também a harmonia se perde,
deixando de ser
autêntica e duradoura,
numa vida humana,
condenada que está à decrepitude e à dissolução;
sem o sentir,
como podemos encontrar a beleza?,
num rosto,
numa paisagem,
na terra,
no céu:
e é isto a harmonia:
a harmonia é uma forma de beleza,
e o caminho que traçamos a cada dia tem de ser
harmonioso,
sem dúbias incertezas
nem decisões impetuosas,
que acorrentam o espírito para além da magna forma da
vida,
que não permite que façamos um rascunho
de cada pensamento
e de cada ação:
às vezes, dou comigo mesma a pensar;
tenho consciência de que penso,
e cada ideia
brota após um hiato de vazio absoluto,
como se fosse como uma pausa na respiração,
ora como com o corpo cheio de ar,
ora como com o corpo vazio de ar:
esta pausa na minha mente
permite que as palavras
venham
ao meu encontro
como se por pura magia se manifestasse um pensamento
novo,
não sonhado antes:
também assim deve ser com a ação mais pura;
aquela que se traduz
num gesto espontâneo,
livre de condicionalismos de qualquer espécie,
ainda que condenada
ao fracasso,
por lhe faltar, talvez, aquela consistência
do raciocínio lógico
e tantas vezes frio:
por isso encontro na noite algo mais do que apenas
as palavras
que afloram à minha mente,
enquanto dúbia
expressão
da tal suposta harmonia que devia existir a cada
momento;
mas não existe;
nem sempre existe:
e, agora, nesta minha jornada,
na noite,
não consigo controlar o pensamento de dúvida:
e se tudo, afinal, não passar de um equívoco?,
que me aprisiona:
luz e sombra:
a noite aproxima-se da madrugada que, vigilante,
trará a luz do dia
e não quero enfrentar essa luz do amanhecer,
sem antes
encontrar um sentido
para as escolhas que faço e que me movem em direção
a não sei que abismo
de loucura talvez:
que é feito do centro da noite?,
em que a palavra
pode irromper
segura
e, ao mesmo tempo, frágil,
para aquietar
toda a tempestade:
e só a palavra revela o sentido da busca
e transcende a correria
do mundo,
como se em mim respirasse.